Como Axinene Construiu o Negócio de Alojamentos de Referência em Nampula

Por Tomás Armando
27 Aug, 2025

Como Axinene Construiu o Negócio de Alojamentos de Referência em Nampula
O programa Gente que Faz, de Tomás Castelo, trouxe desta vez a história inspiradora de Domingos Francisco António, conhecido no mundo empresarial como Axinene. A sua trajectória é marcada por visão, resiliência e um compromisso com a inovação, tornando-se um exemplo de como os sonhos podem transformar-se em projetos sólidos de impacto social e económico.
A Origem do Nome e do Projecto
O entrevistado explica que o nome do seu empreendimento, Axinene, nasceu no momento da conceção do projecto:
“Axinene significa é o dono. Mas por quê? Porque dentro do meu projecto de alojamento e alimentação. O cliente que vem, recebe os serviços como dono, com autonomia para reclamar e exigir melhorias.”
A filosofia do nome traduz a essência da sua missão: oferecer serviços de qualidade que coloquem o cliente no centro da experiência.
A Identificação da Oportunidade
A ideia nasceu em 2003, quando comerciantes provenientes de Cabo Delgado e Niassa, ao viajarem para Nampula, dormiam na estação ferroviária de Nampula, sem condições de alojamento digno. Axinene viu ali uma oportunidade:
“Quando viessem, dormiam na estação. E identifiquei este problema de negócio. Construí oito quartos em pau-a-pique, porque era uma emergência. As pessoas até dormiam na varanda, porque era melhor do que dormir na estação.”
Assim surgia o embrião de uma pensão que, mais tarde, viria a transformar o nome de todo o bairro, passando a ser conhecido como Axinene.
A Evolução do Negócio
O crescimento foi gradual e baseado em prioridades claras. A cada etapa, uma melhoria estrutural:
- 2003 – Início com oito quartos rudimentares de pau-a-pique.
- 2004 – Substituição da cobertura de plástico por chapa, aumentando a segurança contra incêndios.
- Progressivamente – Introdução de camas de palha de Niale _ um tipo de Caniço que predomina no interior de Nampula, substituídas depois por camas convencionais de madeira maciça.
- Alimentação – Construção de um refeitório com capacidade para atender 10 pessoas.
- 2007 – Aquisição da primeira viatura, não para táxi, mas para transportar materiais de construção.
- Expansão – Crescimento de oito para 23 quartos, sustentado pelo reinvestimento dos lucros.
“No mesmo ano a viatura ficou alugada na Visão Mundial. O dinheiro voltou a fortalecer o negócio. Isso é mão invisível, que funciona para quem faz. Não é a favor daqueles que estão de mãos cruzadas.”
Da Indemnização à Consolidação
Mais tarde, a chegada da CDN (Corredor de Desenvolvimento do Norte) trouxe uma reviravolta. O espaço original foi requisitado para transporte de carvão, e Axinene foi indemnizado. Ao contrário de outros que permaneceram no local, ele decidiu usar os recursos para crescer:
“Esse dinheiro não era para comer. Foi para continuar a florir. Planifiquei, priorizei: urgente era uma casa melhor, mobiliário de qualidade e serviços personalizados. Foi isso que fiz.”
Essa visão estratégica permitiu-lhe transferir o negócio para uma infraestrutura mais sólida e expandida, agora localizada na Rua de Moma, em Nampula.
Uma Visão de Longo Prazo
Para Axinene, o empreendedorismo não é imediatista, mas um processo de décadas:
“O projecto eu coloquei para 50 anos. Nem chegamos à metade. Os jovens hoje querem resultados em 2 ou 3 anos. Mas eu já estou há 22 anos e ainda me considero no meio do caminho.”
Actualmente com 10 trabalhadores, ele planeia empregar 50 colaboradores nos próximos 25 anos e consolidar Axinene como uma marca nacional no setor de alojamento e turismo.
“Eu quero ser um indivíduo que em muitas paredes do país tem a marca Axinene. Axinene como dono, Axinene como filhos.”
Conselhos para os Jovens
No final da entrevista, Domingos Francisco António deixa um legado de sabedoria prática e educativa:
“O trabalho de empreendedor é criar inovações, projectos, aceitando riscos. Todo aquele que quer ser empreendedor deve tirar ideias, levar ao conselheiro daquela área e só depois implementar. Assim o risco é menor.”
Ele critica ainda o sistema educativo que, segundo ele, forma cidadãos dependentes do governo:
“As nossas escolas estão a ensinar apenas a ler e escrever. Precisamos de escolas que formam gente que faz. Devíamos ter oficinas móveis nas escolas, onde os alunos aprendem carpintaria, serralharia, mecânica. Isso é formar cidadãos técnicos e competitivos.”
Axinene reforça também o papel da família:
“Os pais são os primeiros professores. Não podem deixar tudo para a escola. As tarefas em casa ajudam a ensinar responsabilidades.”
A história de Axinene é um testemunho de como o empreendedorismo, aliado à visão de longo prazo, pode transformar vidas e comunidades. De oito quartos improvisados em 2003 a uma estrutura sólida em 2025, a sua caminhada demonstra que “a mão invisível nunca é a favor dos que cruzam os braços, mas sempre daqueles que fazem.”
Com persistência, inovação e educação, Axinene projecta um futuro em que a sua marca será sinónimo de qualidade em todo o país.

Tomás Armando
Admin
Director-Geral da CEPRONE, Consultor de Negócios